Barro preto
Adérito de Almeida Marcelino, mais conhecido por Adérito Almeida, nasceu em 1967 em Ribolhos, localidade em Castro Daire.
Adérito Almeida trabalhou sempre como oleiro.
Teve como mestre José Maria Rodrigues (1906-1999), com quem aprendeu a trabalhar o barro e de quem “herdou” uma roda, que exibia com orgulho, apesar de não a usar nas suas criações, conforme fazia questão de esclarecer.
A matéria-prima de eleição era um barro proveniente das Termas do Carvalhal, que, antes de ser lidado, era seco ao sol, picado e peneirado, para expurgar areias e impurezas e poder ser, por fim, amassado. Dava então forma a peças geralmente de grande pormenor, embora apreciasse deixar umas quantas de estrutura mais tosca.
Fez cristos, anjos, ceias, músicos, totens, esfinges. As figuras egípcias eram, aliás, especiais para ele. Associava-as à técnica do tempo neolítico, cozendo-as, tal como na antiguidade, numa soenga. «Qualquer obra tem de estar muito bem seca antes de ir para a soenga. Se tal não acontecer, a mesma pode estourar na cozedura. Daí, nunca se poder ter pressa, nem para as fazer e muito menos para as cozer». Alguns dos seus bonecos tinham uma espécie de cápsula na cabeça. Numa das visitas questionei-o que representavam, o que o espantou muito. «São Ericks», esclareceu com determinação, ainda atónito com o desconhecimento. Mas quem eram os Ericks? E a resposta veio rápida e condescendente: «São os homens que foram à lua».
Nunca quis grandes compromissos com lojas de artesanato, nem tão pouco gostava de frequentar feiras. Era possível encontrar algumas das suas obras à venda em Viseu, na casa Catedral, e em Lisboa, no Santos Ofícios, ambos espaços já encerrados. As últimas obras que lhe são conhecidas datam de 2020. Adérito Almeida morreu em julho de 2023, na terra onde nasceu. Tinha 56 anos.
Assinatura das obras: AAM, AA
Referências: créditos fotográficos Alexandra Ribeiro Simões



